Paulinha,
Aconteceu
tanta coisa depois que você foi embora... Foi embora mesmo? Essas idas com
prazo de validade me confundem, porque a pessoa sempre volta outra e a que foi
talvez suma um pouquinho. Sorte que mudança, com e em você, sempre foi a melhor
coisa.
Quando
você saiu eu estava começando um romance e uma doença. Os dois acabaram de
forma tranquila e até mesmo engraçada, só deixaram umas marquinhas, tipo
fuligem que sai rápido, mas te deixa sujinho. É que esse romance entrou no
carnaval e o carnaval despertou dores no coração dele que já não existiam mais
no meu. Será que um dia as pessoas vão aprender a ir embora sempre pra frente e
não pro passado?
Não
é difícil encontrar outras festas e “zoeiras”, mas é diferente. As nossas
festas tinham um endereço diferente que servem até mesmo para justificar a
frase do Serguei “O rock sou eu.”. Nós éramos a festa. Por isso é que fico meio
assustado quando eu rio do nada e não tem você do lado para entender aquele
sorriso que não quer dizer nada. Você faz falta em mim.
Ainda
fico bêbado e faço parte de grupos louquinhos pelos dias e noites da cidade,
mas não tem você para entender os pesos, as energias negativas, para bloquear
os caretas... Como eu seguro isso tudo sozinho, mulher? O mundo que já era
estreito fica mais apertado sem você.
É
estranho a cada sonho, a cada frase bonita de livro, cada farra e loucura não
ter você como primeiro recurso para contar, para viver. Aí eu acabo esquecendo
tudo isso só porque você não está mais do meu lado como estava quase todo dia,
toda ligação, toda mensagem. Eu culpo seu crescimento, sua genialidade, sua
leveza com a vida e com o mundo, por toda essa distância.
Esse
ano, mesmo começando sem você, vai ser tão incrível, Paula. Você sente isso
quando olha pra janela no final da tarde tomando aquele chazinho que te deram
aí, não é? Não parece que tudo aquilo que a gente viveu e que nos aporrinhava
vai se transformar na paz que a gente quiser? O final desse recente e prematuro
romance fechou as portas, para sempre, daquele amor mais antigo e de difícil
fim, o que é lindo. O início desse ano me traz um projeto de pesquisa tão
incrível que pela primeira vez na vida eu me sinto inteligente. Talvez só você
entenda como é importante para mim me reconhecer inteligente...
Não
somos amigos porque nunca brigamos, mas porque sabemos que não existe um terço
de disposição para brigarmos por qualquer (in)diferença no outro. É aí que eu
sinto saudades da sua voz, de quando eu não entendo o que você fala porque você
está rindo muito. Ou quando você revira os olhos pedindo para que alguma
entidade te tire de uma situação insuportável.
Você
está feliz e eu mais ainda. Mesmo com você longe fico feliz em sentir essas
saudades porque percebo que eu não preciso de você e nem você de mim, e justo
por isso somos indispensáveis para o outro.
Queria
que tudo fosse tão fácil quanto é gostar de ti. Sigo então sem medo da morte,
apenas com medo do sem você.