quarta-feira, 4 de março de 2015

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Paulinha,

Aconteceu tanta coisa depois que você foi embora... Foi embora mesmo? Essas idas com prazo de validade me confundem, porque a pessoa sempre volta outra e a que foi talvez suma um pouquinho. Sorte que mudança, com e em você, sempre foi a melhor coisa.

Quando você saiu eu estava começando um romance e uma doença. Os dois acabaram de forma tranquila e até mesmo engraçada, só deixaram umas marquinhas, tipo fuligem que sai rápido, mas te deixa sujinho. É que esse romance entrou no carnaval e o carnaval despertou dores no coração dele que já não existiam mais no meu. Será que um dia as pessoas vão aprender a ir embora sempre pra frente e não pro passado?

Não é difícil encontrar outras festas e “zoeiras”, mas é diferente. As nossas festas tinham um endereço diferente que servem até mesmo para justificar a frase do Serguei “O rock sou eu.”. Nós éramos a festa. Por isso é que fico meio assustado quando eu rio do nada e não tem você do lado para entender aquele sorriso que não quer dizer nada. Você faz falta em mim.

Ainda fico bêbado e faço parte de grupos louquinhos pelos dias e noites da cidade, mas não tem você para entender os pesos, as energias negativas, para bloquear os caretas... Como eu seguro isso tudo sozinho, mulher? O mundo que já era estreito fica mais apertado sem você.

É estranho a cada sonho, a cada frase bonita de livro, cada farra e loucura não ter você como primeiro recurso para contar, para viver. Aí eu acabo esquecendo tudo isso só porque você não está mais do meu lado como estava quase todo dia, toda ligação, toda mensagem. Eu culpo seu crescimento, sua genialidade, sua leveza com a vida e com o mundo, por toda essa distância.

Esse ano, mesmo começando sem você, vai ser tão incrível, Paula. Você sente isso quando olha pra janela no final da tarde tomando aquele chazinho que te deram aí, não é? Não parece que tudo aquilo que a gente viveu e que nos aporrinhava vai se transformar na paz que a gente quiser? O final desse recente e prematuro romance fechou as portas, para sempre, daquele amor mais antigo e de difícil fim, o que é lindo. O início desse ano me traz um projeto de pesquisa tão incrível que pela primeira vez na vida eu me sinto inteligente. Talvez só você entenda como é importante para mim me reconhecer inteligente...

Não somos amigos porque nunca brigamos, mas porque sabemos que não existe um terço de disposição para brigarmos por qualquer (in)diferença no outro. É aí que eu sinto saudades da sua voz, de quando eu não entendo o que você fala porque você está rindo muito. Ou quando você revira os olhos pedindo para que alguma entidade te tire de uma situação insuportável.

Você está feliz e eu mais ainda. Mesmo com você longe fico feliz em sentir essas saudades porque percebo que eu não preciso de você e nem você de mim, e justo por isso somos indispensáveis para o outro.

Queria que tudo fosse tão fácil quanto é gostar de ti. Sigo então sem medo da morte, apenas com medo do sem você.


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