Paulinha,
Estou ouvindo Chão de
Giz nesse momento e nem gosto do Zé Ramalho. Sabe o que isso quer dizer? Que
estou ficando cafona, que estou apaixonado. Lembro que você pediu para te
avisar quando isso tornasse a acontecer e está começando a acontecer. Você acha
que eu me apaixono muito facilmente, Paula? É coisa de câncer no mapa, não?
A vida tem tomado uma
forma mais tranquila e fluida, onde eu posso procurar descansos, diversões e
paz com a mesma rapidez que respiro. Isso me deixa inquieto, isso de ter muitas
opções, muitos caminhos e não saber ao certo para onde e como ir. Sou um careta
tentando se libertar.
Mamãe agora namora
sabia? Ela me prova a cada segundo que o amor tem uma idade sim, aquela idade
congelada entre os 12 e 16 anos, onde o belo é o olhar do outro, o espírito do
outro, a vida do outro. Um eterno Madrigal Melancólico extremamente carinhoso e
suave que contagia tudo ao redor... Não disse que estava ficando cafona? Mas
acho que não é nem o amor e a paixão, é a felicidade do ser e estar bem
sozinho, de ver que as coisas se ajustam antes mesmo que percebamos. Leio agora
minha primeira carta e aquilo de termos a paz que sempre esperamos se confirma
hoje. Somos paz.
Sempre me apaixono por
aqueles me desarmam, Paulinha. Foi assim com você e está sendo assim com esta
pessoa de agora. Uma pessoa que só não é mais bonita que o próprio nome, que o
próprio ar. Acho que me apaixonei pela paixão com a qual ela fala da vida, dos
ídolos, deusas e passado. Ela tem beleza até nos espaços vazios.
Tenho lembrado muito de
meu pai. Sempre me lembro do meu pai pela música. Acho que a forma com que ele
passava horas me apresentando/explicando músicas me deixou a única e a melhor
boa lembrança dele. Por isso que Caetanos, Bethanias, Elzas, Gals e outros são
tão importantes para mim; eles fazem uma ponte. Já disse e repito: você iria
amar conhece-lo.
Ando me sentindo preso
a um futuro muito certo e muito fácil. Não tenho nada a esperar porque as coisas
já estão definidas e prontas, só preciso deixar solto. Fico inquieto comigo por
me achar doido em não se preocupar mais em estar ou não namorando, estar ou não
estudando, estar ou não caminhando. Prometo que vou sair dos roteiros,
Paula...prometo.
Falo de você o tempo
inteiro e te invoco sempre para você banir o iceberg do meu naufrágio. Meu
feitiço de proteção é você e por isso assino todas essas cartas da mesma forma:
Queria que tudo fosse
tão fácil quanto é gostar de ti. Sigo então sem medo da morte, apenas com medo
do sem você.