domingo, 3 de maio de 2015

05

Paulinha,

Estou ouvindo Chão de Giz nesse momento e nem gosto do Zé Ramalho. Sabe o que isso quer dizer? Que estou ficando cafona, que estou apaixonado. Lembro que você pediu para te avisar quando isso tornasse a acontecer e está começando a acontecer. Você acha que eu me apaixono muito facilmente, Paula? É coisa de câncer no mapa, não?

A vida tem tomado uma forma mais tranquila e fluida, onde eu posso procurar descansos, diversões e paz com a mesma rapidez que respiro. Isso me deixa inquieto, isso de ter muitas opções, muitos caminhos e não saber ao certo para onde e como ir. Sou um careta tentando se libertar.

Mamãe agora namora sabia? Ela me prova a cada segundo que o amor tem uma idade sim, aquela idade congelada entre os 12 e 16 anos, onde o belo é o olhar do outro, o espírito do outro, a vida do outro. Um eterno Madrigal Melancólico extremamente carinhoso e suave que contagia tudo ao redor... Não disse que estava ficando cafona? Mas acho que não é nem o amor e a paixão, é a felicidade do ser e estar bem sozinho, de ver que as coisas se ajustam antes mesmo que percebamos. Leio agora minha primeira carta e aquilo de termos a paz que sempre esperamos se confirma hoje. Somos paz.

Sempre me apaixono por aqueles me desarmam, Paulinha. Foi assim com você e está sendo assim com esta pessoa de agora. Uma pessoa que só não é mais bonita que o próprio nome, que o próprio ar. Acho que me apaixonei pela paixão com a qual ela fala da vida, dos ídolos, deusas e passado. Ela tem beleza até nos espaços vazios.

Tenho lembrado muito de meu pai. Sempre me lembro do meu pai pela música. Acho que a forma com que ele passava horas me apresentando/explicando músicas me deixou a única e a melhor boa lembrança dele. Por isso que Caetanos, Bethanias, Elzas, Gals e outros são tão importantes para mim; eles fazem uma ponte. Já disse e repito: você iria amar conhece-lo.

Ando me sentindo preso a um futuro muito certo e muito fácil. Não tenho nada a esperar porque as coisas já estão definidas e prontas, só preciso deixar solto. Fico inquieto comigo por me achar doido em não se preocupar mais em estar ou não namorando, estar ou não estudando, estar ou não caminhando. Prometo que vou sair dos roteiros, Paula...prometo.

Falo de você o tempo inteiro e te invoco sempre para você banir o iceberg do meu naufrágio. Meu feitiço de proteção é você e por isso assino todas essas cartas da mesma forma:


Queria que tudo fosse tão fácil quanto é gostar de ti. Sigo então sem medo da morte, apenas com medo do sem você.

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