Como é que funciona
essa sua cabeça? Onde é que eu te encontro, se é que um dia eu te encontrei?
O que é que tem de tão
angustiante no final de um copo que te faz evitá-lo? Eu paro e rio pensando na
forma ridícula com a qual você conduz as coisas para que eu as decida. Quem
decide realmente, qualquer coisa, é esse Deus aí que não existe e nem quer
saber de ninguém. Nós, conversamos, entendemos, pensamos, construímos. Decisão
não existe. Acho que é pelo fato de você achar que coisas decididas existam,
que as certezas lhe faltam.
Você não se sufoca com
a quantidade de coisas com as quais se alimenta, se nutre, se engole? Tem tanta
energia que você consome que a gente cansa só de olhar essa excitação falsa que
você interpreta. Você ainda se aguenta? Você mastiga tanta coisa que acaba não
sabendo o gosto de nada, desconhece o sabor da permanência, o prolongar dos
tons.
Antes eu me perguntava
como era possível você construir e terminar qualquer coisa com muita
facilidade, mas hoje é tudo tão claro, que chega a ser quase falso. Você não
constrói nada, logo, aquilo também não termina porque nunca existiu, nunca foi.
Espero que essa ausência de estruturas, de complexos, não sei, te façam um
cigano menos angustiado e sozinho. Andar pelo mundo e conhecer a galera não te
faz ninguém se você anda vazio; apresenta-te oco, seco, sem água pra choro.
Não sei o que esperar
de você porque eu nunca esperei nada, eu levo a vida assim em “desesperanças”.
Não criar expectativas torna as pessoas mais livres para alcançar o que elas
querem e não sabem. Você transformou essa liberdade em uma prisão. Antes de
mim, é claro, bem antes. A relação, o afeto e o estudo são fatores que você
sempre encarou como cadeia. Cadeia é você.
Eu lamento por tudo
aquilo que eu fiz de menos com você. Tem xingar de menos, gritar de menos, me
exaltar pouco. Talvez isso tivesse te ajudado demais. Hoje, por conta disso,
existe um quarto vazio, sem ar, do qual eu saí para voltar a viver aquelas
vidas que eu criei. Você está sem se fazer presente nesse quarto, está por
completo e inteiro na solidão que é (não) ser você. E esse vazio te morde, mas
nem dá pra sentir, porque o mundo lá fora te encanta demais ao ponto de você
conseguir ignorar que até mesmo pessoas como você, lutam para existir.
A gente só dá aquilo
que tem e quando podemos...Você já deu alguma coisa?
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