quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Em 2014, se tem uma imagem recorrente, para mim, é a do desespero. Eu estive desesperada, acelerada. Presa em um consumo esquizofrênico e descabido. As sextas que só acabavam quando já não havia forças nas manhãs de sábado. Depois as quintas, as quartas e até as segundas porque eu já estava lá e aquela aula de terça era uma palhaçada. Eram os 22 anos, a melhor idade do mundo. 

Como eu escrevia! Eu não podia fazer outra coisa, então eu só vivia e escrevia: assim me pareceu, assim eu me senti importante. 

Agora eu me vejo presa a uma produção cada vez mais lenta. Leio muito. Passo horas fitando as paredes do meu quarto, percebendo o verde do teto através de um descascado. Anos depois eu pintei a parede de verde, do mesmo verde da infância e agora a tinta branca do teto cai e me lembra. Essa parede que ninguém mais pinta, lixa ou liga. Ela está arruinada. 

Quando foi que a ruína se instalou?

Existe um bar pequeno na Mangueira, que sempre vejo do 371 e ele é no estilo sobrado, com uma placa desbotada pelos anos que diz “Bar 24 Horas”: Simples. Assim, eu consegui entender porque nas manhãs de sábado sempre tem tanta gente por ali. Eu adoro o conceito de 24 horas
Café Lamas
churrasquinho da Central
Pizzaria Guanabara 
Zona Sul Ipanema
barraquinhas de terminal rodoviário
loja de conveniência de posto de gasolina
Fornalha (pra mim é sempre Fornalha)
Mcdonalds da Saens Peña 
Quiosques-oásis da região dos Lagos 
e eu adoro saber que no meio das noites vai haver aquela luz artificial, o farol das insônias ou a lanterna dos afogados como minha mãe já cantava no karaokê. Lembro de ouvir muito Cazuza também. No carro tinha Legião Urbana, e por isso acho que a nossa geração cada vez mais vê os pais como os humanos que são, crescemos com aquele negócio de você diz que seus pais não te entendem mas é você que não entende seus pais. E eu acho que pensar nos meus pais embora não pareça é o que eu mais faço; eu penso neles, os entendo, os admiro. Eu olho pro teto agora e penso neles. Não poderia deixar de falar sobre eles nessa casa.

A rotina tem sido isso. Essa preguiça. Eu enrolada em cobertores e essa preguiça. Meus pais. As noites. As horas. A minha volta. A minha volta, que sempre parece estar no futuro. E eu penso e eu não consigo dormir. Não sei se voltei. Nunca passei tanto tempo da minha vida em uma posição só, assim, fitando o teto. Não sei se importa também. A pizza das 5 da manhã importa e ela é gostosa demais.

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